"Don't disguise your emptiness by placing blame on me and everyone else."
Caroline despertara sonolenta no dia seguinte. A luz forte que entrava pela janela do quarto a deixava com dor de cabeça. Estava absolutamente feliz, embora não conseguisse lembrar o motivo.
Correu os olhos pelo quarto, totalmente estranho à ela. Pensou que poderia ser o quarto do hotel em que haviam se hospedado, até se lembrar de que não haviam se hospedado em lugar nenhum. Ao ver a figura loira deitada ao seu lado, deu um grito de susto, lembrando-se repentinamente de tudo que acontecera.
Taylor, que ainda dormia, acordou assustado com o grito, e caiu da cama. Encarou a garota enrolada no lençol e notou imediatamente que ambos estavam nus.
- Bom dia! - Começou ele em uma voz falsamente animada, se esgueirando de volta para cama. Mas murmurava algo consigo mesmo. - Droga...
- Como é? - Perguntou Caroline, com uma ponta de raiva. Era demais imaginar que, depois do tanto que ele insistira na noite anterior, estivesse arrependido agora.
- Eu disse bom dia. - Respondeu ele, sorrindo de leve. - Você dormiu bem?
- Perfeitamente.
- Não fique tímida. - Ele riu, se aproximando para beijar a bochecha dela. Depois se levantou em busca de suas roupas. Ela virou o rosto, roxa de vergonha.
Ninguém disse nada por um momento. Caroline agora observava ele se vestir. Resolveu quebrar o silêncio.
- Quer falar sobre o que houve ontem à noite? - Ele voltou os olhos para ela, sorridente.
- Minha memória também está ruim agora, mas acho que a gente pode deduzir o que aconteceu. - Deu uma piscadela.
- Não... não foi isso que eu quis dizer. - Disse ela, corando. - O que quero dizer é... cometemos um erro não é? Acho que devíamos falar...
Ela se calou diante da expressão séria de Taylor, que demorou para responder. Parecia ocupado demais com a braguilha. Por fim aproximou-se dela, sentando ao seu lado.
- Você é nova nisso, não é?
- Em que?
- Você sabe... essa coisa de dormir com o ídolo e tal.
- Nossa, você fala como se fosse uma profissão...
- Bom, para algumas pessoas é. - Ele riu baixinho. - Não é a primeira vez que faço isso... mas geralmente as garotas sabem que o melhor é não falar sobre o que aconteceu. Isso evita sentimento de culpa para os dois lados.
Caroline olhou para ele, atônita. Parecia que, afinal, o mundo de Taylor tinha suas amarguras.
- Se você se sente culpado depois, por que faz? - Ela perguntou, sem conseguir se conter.
Ele a olhou por um segundo, com uma expressão que parecia raiva. Porém, ao responder, sua voz estava calma.
O motivo de eu fazer esse tipo de coisa... bom, seria complicado explicar. Todos tem motivos diferentes. Mas você precisa que entender o modo como eu encaro isso, antes que eu a deixe sair por essa porta.
- O que quer dizer?
- Quero dizer que você vai sair, contar para as pessoas... sei que vai, e não adianta eu pedir o contrário. - Disse ele, quando ela fez menção de interrompê-lo. - E ninguém vai acreditar em você. Histórias desse tipo sobre mim saem por aí todos os dias, algumas são verdade, a maioria não. E isso só eu posso afirmar.
Ela ficou em silêncio, apenas ouvindo o pequeno discurso.
- Mas o mais importante é que você não crie qualquer ilusão sobre o que aconteceu... quero dizer... sabemos que foi bom, e isso me faz sentir um certo carinho por você. Mas é só isso, entende? Não significou mais nada.. - Ele praticamente cuspiu as últimas palavras, contrariado. Mais do que nunca, desejava não ter que explicar aquilo.
Caroline desviou o rosto. Claro que já sabia de tudo aquilo, mas era doloroso ouvir.
- Desculpe, não sei outro modo de dizer isso... não está chorando, né? - Perguntou ele, tocando-a no ombro, preocupado.
- Não. - Respondeu, tentando manter a voz firme. - É melhor eu ir. Preciso encontrar a Jéssica.
Levantou-se repentinamente da cama, ainda enrolada no lençol, buscando suas próprias roupas. Taylor a observou, desconfiado.
- Você está zangada.
- Não estou não.
- Sei que está... me desculpe. Mas eu precisava dizer...
- Não precisava não. - Explodiu ela. - Você acha que eu não sei de tudo isso? Pensou que eu fosse achar que está apaixonado por mim?
- Eu não...
- Eu posso ser novata em dormir com ídolos, ou seja lá como você chama essa estupidez, mas não sou idiota. Sei como o mundo funciona.
- Então por que está tão...
- Porque eu pedi ontem para você não me usar como um brinquedo! E claro que me negou esse único pedido, eu obviamente permiti, mas dói ouvir você me jogando isso na cara. Por mais que eu já soubesse.
Ambos se calaram. Caroline não acreditava que estava tendo aquela conversa com ele, mas naturalmente, a barreira de "o que é normal conversar com Taylor Hanson" já fora vencida na noite anterior. Percebeu que sequer se sentia nervosa na presença dele. Ao menos, não tanto como antes.
Ele a observou arrumar o cabelo diante do espelho, parecendo ligeiramente constrangido.
- Vai ao show hoje a noite não é?
- É claro que não. - Ela o espiou através do espelho.
- Por que? Pensei que fossem acompanhar a...
- ACHO que as circunstâncias mudaram um pouco... gostaria de ir, você ainda é meu músico favorito, mas não sei se vou aguentar ficar na plateia recebendo seus sorrisinhos ensaiados que você manda para todo mundo que sabe as letras de cor.
- Bom... esse aqui é o meu número. - Disse ele, entregando um papel à garota. - Se você não quiser comprar o ingresso me ligue e eu posso te...
- Você acha que é esse o problema? Não quero te encontrar mais. - Disse ela com raiva, enfiando distraidamente o papel no bolso.
Taylor não soube o que responder. Mas precisava dizer algo. Apesar de tudo que havia dito, estava feliz como há muito tempo não se sentira, e ele sabia que no momento em que ela saísse por aquela porta esse sentimento iria acabar. Ficou pensando no que poderia dizer, mas Caroline foi mais rápida.
- Tchau, Taylor. - Falou ela, deixando o quarto.
- Vai, então! - Respondeu ele com raiva. Raiva por ela se atrever a fazer aquilo. Mais raiva de si mesmo, por não saber como impedir que acontecesse. - Vai e não me apareça mais, existem muitas outras como você! - Gritava para o corredor, mas ninguém lhe respondeu.
*****
- VOCÊ O QUE?? - Perguntou Jéssica assustadíssima, algumas horas depois. Sua surpresa foi tanta que ela derrubou a caixa de leite da mesa. Por sorte, Caroline a recuperou antes que caísse no chão.
- Fale baixo Jéssica, por favor. - Pediu desesperada.
As duas estavam na casa da avó de Jéssica. Depois de encontrar a amiga perambulando do lado de fora do hotel, Caroline insistiu para que desistisse de ver ao menos alguns dos próximos shows e aceitassem o convite que a senhora fizera a elas. Jéssica não havia entendido nada, mas a amiga prometera uma explicação. Era a primeira vez naquele dia que tinham a chance de conversar sozinhas, e Caroline acabara de confidenciar o que acontecera na noite anterior.
- Carol... eu não sei nem o que dizer... como assim?
- Estávamos muito bêbados, acho... ele também.
- Meu Deus! Você era tão tímida quando a gente chegou aqui, quem é você e o que fez com a minha amiga?
Caroline riu baixinho, mas seu olhar estava distante.
- Você está legal?
- Não muito... estou arrependida.
- Por que?
- Ele me usou, né Jéssica? E ainda fez questão de dizer que faz isso com um monte de garotas... e agora sempre lembro dos filhos dele e tenho vontade de me afogar.
- Ei, pode parar... isso é trabalho dele, não esquente com os filhos... eu hein... - Jéssica tentava animar a garota, dando tapinhas calorosos no ombro dela.
- Tudo bem... ei... Jess... - Disse a menina, notando uma enorme fileira de hematomas no braço da amiga. - Onde é que VOCÊ estava ontem? Por que te encontrei do lado de fora do hotel?
- Nossa, você nem sabe... Depois que eles tocaram, o Zac juntou uma rodinha de meninas para mostrar mais algumas músicas no violão... eu fui pra lá também... Tinha muita bebida... nossas amigas Maggie e Amy estavam lá também... Depois lembro do Zac ter dito: sabe o que seria legal? A gente ir lá fora e atravessar a cidade cantando músicas do Hanson juntos... e claro, nós fomos.
- Que bando de retardados. - Riu-se Caroline.
- Não, escuta só... ele também estava muito bêbado, não parava de abraçar todo mundo.... ele me mordeu, olha. - Disse ela, baixando a blusa para mostrar uma marca no ombro."
- Meu Deus! Aquela Kate deve ser louca pra ir embora e deixar o homem solto assim... por acaso ele te espancou também? Você viu o seu braço?
- Ah, isso eu não sei como consegui... não me lembro, porque depois disso voltamos para a frente do hotel e só me lembro de ter acordado lá, com a cara na sarjeta... mas sabe, foi bem legal... e eu achando que tinha ido longe demais com o Zac, mas você hein....
- Nem comece, quero esquecer que isso aconteceu... conte mais, tente lembrar o que mais fizeram....
- Bom... eu não sei, acho que apaguei.... - Dizia Jéssica, contorcendo o rosto ao tentar se recordar. - Ah.... depois que voltamos para a frente do hotel, algumas meninas começaram a dançar... e a Amy veio falar comigo... perguntou de você, acho.
- Hein!?
- É... ela disse "cadê sua amiguinha?" E eu disse que não sabia... mas que provavelmente foi atrás do Tayl...
- JÉSSICA! - Interrompeu a garota.
- Não se preocupa, como é que ela ia saber? Nem eu sabia... aí ela falou algo que eu não gostei, e eu dei um tapa nela... ah, acho que foi assim que arranjei os hematomas.
- Caramba... por que o Zac não separou vocês?
- Ele nem devia estar lá mais... não sei, está tudo confuso na minha cabeça... nunca mais vou beber, nunca.
- Você não deveria mesmo...
- Você também! Dormir com o Taylor, caramba!
- Pelo que eu percebi, ele não é exclusivo. - Disse Caroline com amargura. - Vamos... vamos ajudar sua avó com a louça.
As duas garotas foram para a cozinha, ambas pensativas. A festa no hotel parecia ter mudado muito mais do que somente os planos que elas tinham.
- Você não quer ir no show mesmo?
- Acho que não conseguiria Jess... preciso ficar um pouco longe dele, da banda, de tudo isso... preciso esquecer que isso aconteceu... acho que foi muito pra mim.
- Não tem problema, podemos aproveitar os Estados Unidos de outra forma. Podemos fazer compras em New York. - Disse ela, se animando.
- Como vamos pra New York, louca?
- Vovó, oras. Você sabe que ela adora companhia de gente jovem, faz ela se sentir mais nova também. A gente cai na estrada, com um CD bem animado...
- Ok, qualquer coisa, menos Hanson.
Jéssica riu alto.
*****
As semanas que se seguiram foram das mais felizes nas vidas de Caroline e Jéssica. As duas percorreram praticamente o país inteiro, visitando diversos pontos turísticos e sabendo que levariam para casa boas recordações. O episódio com o Hanson já estava esquecido, guardado em suas memórias. Nem sequer voltaram a falar sobre isso. Uma semana antes da data marcada para voltar para casa, porém, um imprevisto aconteceu. Caroline não conseguira sair do quarto durante o dia inteiro - estava passando mal e vomitando muito.
- Carol, estou ficando preocupada. Há dias você está assim... não viu a epidemia de gripe que estão noticiando? - Dizia Jéssica, segurando os cabelos da amiga para trás.
- Não estou com gripe. - Respondeu ela, teimosa, em um fio de voz, voltando a vomitar logo em seguida.
- Eu hein... você nem comeu tanta coisa pra vomitar desse jeito garota, acho que a gente precisa dar o fora desse país o mais cedo possível.
- Não... falta só uma semana.... - A garota se esforçava para falar, se agarrando no vaso sanitário. Sua cabeça girava.
- Não quero saber, precisamos ir embora. Muita gente está morrendo por causa dessa gripe, você precisa ir pro médico logo.
Ignorando os protestos da amiga, Jéssica deixou o hotel, decidida a fazer os preparativos para que partissem logo. Quando voltou, poucas horas depois, encontrou o quarto vazio.
- Carol? Consegui, podemos ir embora amanhã a noite se... Carol? Você está aí?
A porta do banheiro estava entreaberta. Jéssica se aproximou cautelosamente, com medo do que encontraria ali, mas quando chegou perto o suficiente viu que era apenas a amiga, sentada no chão. Mas se assustou ao ver que seu rosto estava coberto de lágrimas.
- Carol, o que houve? - Perguntou ela repentinamente preocupada, se aproximando.
A menina não respondeu. Apenas encarava a pequena caixinha de papelão em suas mãos. Aos poucos, voltou o rosto para Jéssica, molhado pelas lágrimas que insistiam em sair. Parecia incapaz de dizer qualquer coisa.
*****
- Por que você já vai sair de novo? - Perguntou Taylor manhoso, olhando para a esposa. - Raramente temos esse tempo à sós.
- Minha consulta já está marcada, mas não se preocupe, eu volto logo.
- Desmarque. Você pode ir outro dia, não pode? - Ele a puxava pelo braço, tentando impedi-la de ir embora.
- Desculpe amor, mas preciso ir. Estou com medo de ter pego a gripe que estão noticiando. Não vou demorar. - Disse Natalie, olhando com carinho para o homem. Deu um beijo no rosto dele antes de sair.
Taylor revirou os olhos, mal humorado. Estava agora sozinho na casa, as crianças estavam dormindo. Ele viu-se, surpreso, sentindo falta da esposa, que saíra pela porta há menos de um minuto.
O que acontecera com ele nas últimas semanas, ninguém sabia dizer. Estava mais carinhoso, mais gentil - chegava a parecer carência. Taylor sabia o que causara aquilo. Ela. A brasileira. Sentia falta dela - muita falta, e não se atrevia a admitir isso para si. Talvez estivesse se sentindo tão culpado pelo que acontecera que seu próprio inconsciente decidiu que deveria se aproximar mais de sua família.
- Era só uma garota. - Disse ele para si mesmo, esfregando os olhos. Odiava o fato de que seus pensamentos voltavam para ela à todo minuto. Odiava o fato de que não conseguia esquecê-la.
- Quem é uma garota? - Perguntou uma vozinha fina. Taylor se virou, surpreso, mas era apenas Penny, que havia acordado. Ele sorriu, levantando-se para abraçá-la.
- Você, que é a garotinha linda do papai. Não é? - Disse, fazendo cócegas na filha.
- Sou. - Respondeu ela, entre risadas. - Papai, está nevando. - Disse de repente, olhando pela janela.
- Sim, está... por que não vai acordar seus irmãos para brincarmos lá fora?
- Eba! - Berrou Penny, se desvencilhando do pai imediatamente e correndo de volta para o quarto. Taylor afastou os cabelos do rosto, feliz. Estar com os filhos lhe dava um prazer imenso, a maior recompensa que recebera por ter trocado sua juventude por uma vida de casado. Em poucos minutos estava no quintal com as crianças, todos devidamente agasalhados. Até o mais novo, Viggo, parecia se divertir como nunca em meio à neve.
- Papai, olha, a gente está montando um boneco de neve que parece o tio Zac. AAAAAI! Para, River!
- River, não jogue bolas de neve em sua irmã. - Disse Taylor, distraído. Ezra passou correndo por ele, tropeçando no irmão mais novo, que começou a chorar no ato.
- Ops... - Murmurou Ezra, se afastando de fininho para ajudar a irmã com o boneco de neve.
- Shh, Viggo, não chore... - Taylor se ajoelhou em frente à criança, em busca de possíveis danos. - Não chore bebê, eu estou aqui...
- Paai, o Ezra derrubou meu boneco! - Disse a voz chorosa de Penny.
- Não fui eu, foi o River!
- Não foi! - Berrou River, pulando em cima do irmão. Os dois começaram a rolar pela neve, Penny gritando enquanto assistia. Viggo chorava cada vez mais alto.
- Pai, o River me deu um soco!
- Parem de brigar um pouco, estou tentando acalmar seu irmão! - Gritou Taylor em resposta.
- Bate nele, River!
- Fique quieta Penny, ou vou brigar com você também! - O mais velho ameaçou.
- Papaaaaai, o Ezra quer me bater!
- Papai, a Penny é uma mentirosa!
- PAPAI!
- O QUE É? - Berrou Taylor, perdendo a paciência. River arregalou os olhos para ele, assustado.
- Nada... só ia dizer... o telefone... - A criança apontou o interior da casa.
- Ezra, fique de olho no seu irmão. NÃO BRIGUEM! - Pediu Taylor desesperado, correndo para dentro da casa. Chegou até a mesa ligeiramente suado.
- Amor?
- Natalie... que bom que ligou. - Ele estava ofegando. - Isso aqui está um caos sem você. Como foi a consulta?
- Foi ótima, foi incrível! Meus parabéns, papai!
*****
Grávida? - Exclamou Jéssica, atônita. Caroline simplesmente ergueu os olhos para ela. Parecia estar em choque.
Entretanto, a verdade era imutável. Os dez diferentes testes de gravidez espalhados pelo chão eram a prova.
- Ele vai me matar. - Foram as primeiras palavras de Caroline, assim que começou a se recuperar do susto. Mas não passava de um murmúrio. - Sério Jéssica, o que eu vou fazer? Ele vai me matar.
- Calma, se controla. - Disse Jéssica, segurando a amiga pelos ombros, que parecia a ponto de arrancar os cabelos. - Espera, vamos pensar em algo.
As duas se encararam por um longo momento. Ambas sabiam que uma reação negativa de Taylor não era a pior coisa que deviam esperar. Ainda havia o inegável fato de que os meses de Caroline estavam contados, e seria um gesto terrível colocar no mundo uma criança que já estava fadada a crescer sem sua mãe. E muito provavelmente, sem o pai.
- Não posso ter esse bebê. - Declarou Caroline após alguns minutos. - Simplesmente não posso. Vou abortar.
Jessica encarou-a, surpresa. Sabia que a amiga era uma católica fervorosa que sempre condenara aquela atitude. O fato de estar recorrendo a ela mostrava o quão desesperadora era a situação.
- Carol, fica calma... olha, temos algum tempo para pensar nisso. Você precisa falar com o Taylor. Ainda tem o número dele, não é? Talvez ele saiba o que fazer. - Disse, remexendo a bolsa da amiga em busca do celular.
- Ele vai me matar, é isso que vai fazer. - Repetiu a garota, seus olhos se enchendo de lágrimas. - Não sei o que vou dizer a ele, Jéssica.
- Pare de falar bobagens, a culpa disso não é sua. - Disse Jéssica, entregando o telefone à amiga. - Vai, ligue para ele.
- Eu não... íamos embora amanhã, não é?
- Pode esquecer, né Carol. Não dá. Vamos para Tulsa para você tentar conversar com ele, e depois você pode ligar para os seus pais. Qualquer coisa podemos nos hospedar na casa da minha avó, ela nos ajuda com as despesas que teremos aqui ou algo assim... mas não podemos ir embora agora.
- Mas...
- Ligue!
Caroline procurou o número na agenda e simplesmente ficou olhando para ele. Tentava conter as lágrimas; não queria que ele percebesse que estivera chorando. Não queria tampouco falar com Taylor - aquela noite obviamente havia sido um erro, e o mais sensato seria esquecê-la - mas sabia que não tinha opção. Demorou-se alguns segundos refletindo, mas ao levar o celular à orelha, seu rosto demonstrava determinação.
*****
A mesa estava lotada quando o celular tocou. Natalie olhou feio para o marido; ele sabia o quanto ela odiava aquele tipo de interrupção durante momentos importantes. Afinal, a família inteira estava ali, comemorando a quinta gravidez da moça. Com um olhar de desculpas à esposa, Taylor atendeu o telefone.
- Yeah?
- Taylor?
O loiro engoliu em seco, reconhecendo na hora aquela voz. Como aquela garota tinha coragem de ligar para ele depois do modo como o havia deixado? Por mais que quisesse falar com ela novamente, o orgulho era muito mais forte.
- Escute... essa não é uma boa hora.
- Por favor Taylor, é muito importante.
Com um suspiro, ele pediu licença à todos e se afastou da mesa. Natalie continuava a observá-lo com desconfiança.
- O que foi? Minha família inteira está aqui, você não devia ter me ligado. - Sussurrou, quando estava longe o bastante para ninguém escutá-lo.
A rispidez na voz de Taylor pegou Caroline de surpresa. Ela teve de se esforçar muito para não começar a chorar novamente.
- Desculpe, eu não ligaria se não fosse totalmente necessário. Mas preciso conversar com você. Você está em Tulsa, não é?
- Bom, sim, mas como eu disse, essa é uma péssima hora.
- Podemos nos encontrar? - Ele permaneceu em silêncio. - Taylor, por favor, sei que cometemos um erro, e não quero que aquilo aconteça de novo. Mas preciso mesmo falar com você, acho que tenho esse direito.
- Shh, está bem. - Ele disse nervoso, olhando por cima do ombro. - Há um Starbucks na rua Harvard. Estarei lá amanhã. Podemos almoçar e você me diz tudo que tem para me dizer. Depois seguimos caminhos diferentes.
Caroline sabia que ele não estava se referindo apenas à direção que cada um tomaria após saírem do café. Tentou manter a voz neutra.
- Ok. Até lá. - Respondeu, mas ele já havia desligado.
- Com quem estava falando? - Natalie perguntou, assim que Taylor voltara a se sentar.
- Com o gerente da casa de shows. - Mentiu ele rapidamente. - Aqueles problemas técnicos de sempre. Já disse que não é comigo que devem falar sobre essas coisas, mas nada entra na cabeça desses caras...
Ela pareceu mais tranquila. Ele, entretanto, estava com a expressão carregada.
- Taylor, eu sei que você não esperava por isso. Eu também não esperava. Mas vamos nos sair bem. Afinal, o que são cinco crianças para quem já tem quatro?
Ele ergueu os olhos para ela. A notícia realmente fora uma surpresa enorme, e ele lutava para esconder o seu desapontamento, ou poderia magoar a mulher. Mas parecia que quanto mais tentava escapar da inércia que sua vida se tornara, mais ela parecia sugá-lo.
- Sei que vamos, amor. - Começou ele, mas suas palavras foram interrompidas por Isaac, que se levantara na outra ponta da mesa, a taça nas mãos.
- Quero dedicar este brinde à Taylor e Natalie, e à nova vida que está a caminho. - Bradou ele, sorrindo para o casal. - Que Deus continue a iluminar suas vidas e traga muitas felicidades à família maravilhosa que vocês estão formando.
As palavras foram simples, mas o suficiente para começar um rebuliço na mesa. Após o brinde, todos começaram a discutir animados sobre o próximo bebê Hanson. Natalie estava radiante, emocionada. Entrementes, Taylor se ocupava em manter todos os filhos em seus determinados lugares.
- Papai, quero mais torta. - A vozinha de Penny sobressaltou-o. Ela puxava o pai pelo braço, as bochechas já sujas de chocolate. Taylor riu, segurando a garota em seu colo e oferecendo a própria sobremesa à ela. Penny sorriu, agradecida, e ele retribuiu o olhar da filha, analisando-a. Era tão parecida com Natalie... e ela tinha razão, afinal. Eles eram ótimos pais, apesar de toda a ausência de Taylor durante as turnês. Ele se perguntava o porque de, após todos aqueles anos com a esposa, ainda sentir que algo estava errado. Não era segredo para ninguém que fora um casamento apressado, onde o desespero e a empolgação eram mais fortes do que o amor. Depois de tanto tempo juntos, era natural que fosse desenvolvido um carinho especial pela esposa. Mas somente ele sabia que jamais fora algo além disso.
Mas afinal, isso era um casamento, pensava Taylor, desiludido, enquanto dirigia de volta para casa com a família. - Nenhum casamento era perfeito, e ele sempre estivera disposto a lutar para fazer daquele o melhor possível. Nem que para isso precisasse usar a máscara de perfeição, e fingir que tudo estava bem. Mesmo quando não estivesse. E agora ainda havia aquela garota que voltara para assombrá-lo... ele nunca se sentira tão perdido.
*****
- Coloque esse vestido.
- Que?
- Esse aqui, o Taylor gosta de vermelho.
- Ah....
- E coloque esse brinco, é bonito, meio vulgar.. ele vai gostar.
- Tudo bem...
- Se quiser eu te empresto o meu salto para...
- FICA QUIETA, JESS. - explodiu Caroline de repente. - Isso não é um encontro, eu vou vê-lo para provavelmente dar a pior notícia da vida dele.
- Bem que você poderia dar outra coisa...
Caroline fuzilou a amiga com o olhar. Mas não se deixou abater; sabia que Jéssica estava tão desesperada quanto ela. A diferença é que usava o humor e o otimismo como arma. Era exatamente disso que Caroline precisava, mas por mais que tentasse, não conseguia parar de se preocupar.
- Estou com medo, Jéssica. Ele estava tão nervoso no telefone.. tenho medo de começar a gritar quando eu contar. Ou pior, levantar e me largar sozinha.
- Ele não pode fazer isso! Você não fez um filho sozinha, ele sabe disso.
Um filho. A palavra ainda era difícil de engolir.
- Tudo bem. - Caroline respirou fundo, pegando a bolsa e se dirigindo à porta do quarto. - Eu volto logo.
- Estarei esperando.
Enquanto caminhava até o café, há poucas quadras dali, a garota tentava descobrir qual seria a melhor maneira de contar a ele o que havia acontecido. Nada que pensasse, porém, parecia capaz de salvá-la de um acesso de raiva iminente da parte de Taylor, portanto ela se conformou em tirar o assunto momentaneamente da cabeça e esperar para ver o que acontecia. Ao chegar, viu pelo vidro que ele já estava lá. Recostado displiscentemente na cadeira, tamborilava os dedos na mesa. Estava lindo, como em todos os sonhos de Caroline. Usava óculos escuros, talvez para não ser tão facilmente reconhecido, mas o povo de Tulsa não parecia sequer perceber aquele homem sozinho no canto do café. Caroline se aproximou timidamente, chegando perto o suficiente para ele vê-la. Taylor então levantou os óculos, prendendo-o nos cabelos, e sorriu para a garota, indicando a cadeira à sua frente. Ela se sentou, confusa com a gentileza inesperada.
- Eu lhe devo desculpas. - Disse ele sem rodeios, antes que ela pudesse abrir a boca. - Sei que ontem fui muito estúpido no telefone, você não merecia isso.
- Não... não tem problema.
Ele continuava a sorrir, os olhos claros brilhando em sua direção.
- Então, o que vai querer? - perguntou, fazendo menção de se levantar. Caroline o segurou pela manga da camisa xadrez.
- Não quero nada, estou sem fome. Só queria conversar com você.
O rapaz pareceu surpreso, mas não fez objeções. Recostou-se novamente na cadeira, encarando o próprio copo de café, intocado.
- Tudo bem... vamos conversar então.
Parecia que ele esperava que Caroline começasse a falar, mas ela não sabia exatamente o que dizer. Pigarreou.
- Bem... o que aconteceu naquele dia... peço desculpas. Eu não estava realmente sóbria, e sei que você também não. - Arriscou a garota, olhando para ele. Taylor porém, apenas a encarava, silencioso. Ela continuou. - Por melhor que tenha sido, sinto pelo que aconteceu, e sei que não devo esperar uma próxima vez. Sei também - ela aumentou um pouco o tom de voz, quando ele abriu a boca para dizer alguma coisa - que não signfiico nada pra você além de uma diversão para aquela noite. E não esperava que fosse diferente.
Ele observou-a por alguns momentos. Depois, curvou-se para frente, se aproximando da garota e falando em um sussurro.
- Isso não é inteiramente verdade. Deus sabe o quanto eu queria que as coisas fossem diferentes. Mas você não é... digamos... o prêmio da noite passada. - Disse ele com um sorriso, sabendo que ela perceberia a alusão à uma das músicas da banda. - Se você quer saber... eu não lamento pelo que aconteceu.
Caroline ouviu aquele pequeno discurso, emudecida. Por um segundo, não conseguia lembrar do real motivo que a trouxera até ali.
- E toda aquela história de caminhos diferentes? Eu gostaria de ao menos ser sua amiga, sabia? Gostaria que me considerasse, mas sei que estragamos qualquer chance de amizade. Sou apenas uma fã piranha que teve a sorte de entrar no camarim...
- Escute... - ele interrompeu, o tom de voz entre divertido e irritado. - Não fale assim sobre você. Eu também adoraria ter sua amizade, e mais uma vez, peço desculpas pelo que disse ontem. Eu estava nervoso, irritado. Estava em uma ridícula comemoração em família quando você ligou, sabe, Natalie está esperando um bebê. A notícia me pegou de surpresa...
- Ela.. O QUE? -
- Ela está grávida... uau, isso ainda é surpresa para alguém? Pensei que as pessoas já tivessem se acostumado. - Brincou Taylor, em uma estúpida tentativa de encobrir sua preocupação.
Caroline congelou. Simplesmente não sabia o que dizer. De repente todo o motivo que a levara até ali lhe pareceu tolo. Ele jamais daria atenção suficiente para aquele problema. Iria mandá-la abortar. Ela sabia disso.
- Eu preciso ir. - Disse, se levantando abruptamente.
- Que? Você acabou de chegar. Nem me disse sobre o que queria conversar! - Ele parecia confuso.
- Já conversamos o suficiente. Adeus Naylor. Digo, Taylor. - Respondeu ela em sua voz aguda, correndo dramaticamente para fora do café.
*****
- Como foi? - Jéssica esperava por ela ansiosa. Sua expressão mudou ao ver que a amiga chegara com o rosto branco, como se tivesse visto um fantasma. Caroline jogou a bolsa sobre a cama, fechando a porta para que não fossem ouvidas.
- A mulher dele está grávida também!
- Uau... Taylor não é fraco...
- Jéssica, como pode fazer piada com isso? Ele já vai ter outro filho! Eu não acredito.
- Mas o que ele disse sobre seu bebê?
- Você acha que eu contei? Vim correndo para cá assim que soube, nunca mais quero nem chegar perto daquele... daquele... - Ela não conseguia parar de chorar.
- Calma Carol. - Jéssica sentou ao lado da amiga, passando os braços por trás de seus ombros. - Olha, vai ficar tudo bem... Acho que o melhor a fazer é dar um tempo agora... esfriar a cabeça..
- Como? Jess, eu não sei o que fazer. Meu filho já vai ser orfão de mãe. Não quero que seja de pai também. Não posso ter esse bebê! Estarei fazendo isso por ele.
- Pense. - Insistiu a garota. - Descanse por alguns dias, tenha certeza do que quer fazer... logo terá outro show aqui em Tulsa, não é? Podemos ir nesse, e você conversa com ele... com a cabeça mais fria... e dessa vez encerra essa história de uma vez por todas.
Caroline tremia de nervosismo e medo. Mas sabia que a ideia de Jéssica era a mais sensata que haviam tido até então, e tentou se acalmar.
- Ok... tudo bem.. acho que posso fazer isso.
- Aquele havia sido um dia e tanto. Ambas se deitaram para dormir, mas por mais que Caroline tentasse esvaziar sua mente, uma vozinha insistia em falar em sua cabeça. " Você acha mesmo que ele vai se importar?"
"No one else can change your fate; you'll have to do it for yourself."
OMG! não vejo a hora que tenha o 6° capitulo! ;D
ResponderExcluirminha nossa ela ficou grávida? =O não creio! sei que já disse isso mas tenho que repetir, vc escreve muito bem! tô cada vez mais envolvida na fic!
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